Genebra (CICV) – Os países afetados por conflitos também sofrem um impacto desproporcional da mudança climática – uma dupla ameaça que obriga as pessoas a fugir de casa, prejudica a produção de alimentos, interrompe os canais de fornecimento, agrava surtos de doenças e debilita os serviços de assistência à saúde, disse hoje o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em novo relatório.
O documento, intitulado Quando a chuva se transforma em poeira, baseia-se em pesquisas realizadas no sul do Iraque, no norte de Mali e no interior da República Centro-Africana. Descreve as experiências das pessoas com os riscos climáticos e os conflitos armados, mostrando suas maneiras de lidar e se adaptar. Também revela como, na ausência de um apoio adequado, elas podem ser obrigadas a mudar drasticamente seu modo de vida, diversificar seus meios de subsistência ou fugir de suas casas.
Dos 20 países mais vulneráveis à mudança climática, a maioria está em guerra[1]. Até 2050, 200 milhões de pessoas poderiam necessitar de ajuda humanitária internacional por ano, o dobro da cifra atual.
“A mudança climática é cruel. Embora seja sentida em todas as partes, seus efeitos são mais prejudiciais nos lugares mais vulneráveis do mundo. Presenciamos todos os dias o impacto dos choques climáticos e da degradação ambiental sobre comunidades afetadas por conflitos. Sua capacidade de se adaptar diminui radicalmente em função da violência e da instabilidade. Esses choques custam vidas”, afirmou Catherine-Lune Grayson, especialista do CICV em mudança climática.
Alguns exemplos de experiências das pessoas que vivem na República Centro-Africana, Iraque e Mali:
“A mudança climática não mitigada causará um aumento exponencial do número de pessoas necessitadas, e as organizações humanitárias já não podem satisfazer as necessidades. Os riscos climáticos podem levar a retrocessos no desenvolvimento e ao colapso sistêmico, sobretudo em estados frágeis e afetados por conflitos, que são atualmente os mais negligenciados pela ação climática”, disse Grayson.
O CICV faz um apelo à mobilização dentro e fora do setor humanitário, para que a ação climática e os recursos financeiros cheguem às zonas de conflito e garantam que as comunidades mais atingidas recebam o apoio necessário para se adaptarem à mudança climática.
[1] O ND-Gain Index (Índice de Adaptação Global da Universidade de Notre Dame) indica a vulnerabilidade de um país à mudança climática e a outros desafios globais em combinação com sua preparação para melhorar a resiliência.