Moçambique: o diretor de operações do CICV afirma que o impacto conjunto do conflito e do clima extremo em Cabo Delgado ameaça a saúde pública
O elevado número de pessoas deslocadas em Cabo Delgado, a província setentrional de Moçambique, sobrecarregou as instalações hídricas e sanitárias da zona, que em alguns casos já tinham sido danificadas por eventos meteorológicos extremos. Por causa disso, a escassez preocupante de água potável, saneamento e serviços de saúde são uma ameaça iminente à saúde pública para as pessoas deslocadas e as comunidades anfitriãs.
“Muitas pessoas dependem de água desse tipo e ela definitivamente não atende a nenhum padrão de saúde pública”, declarou Dominik Stillhart, diretor de operações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), no encerramento de uma visita de três dias a Cabo Delgado. “Acho que é importante prestar muita atenção no que está acontecendo aqui, especialmente no Norte do Moçambique.”
Nos últimos anos, Moçambique tem enfrentado as consequências cada vez mais intensas da combinação entre um conflito armado e as alterações climáticas, o que afeta a saúde das pessoas. Ciclones e cheias recorrentes e cada vez mais frequentes danificaram as infraestruturas sanitárias, hídricas e de saúde, como o hospital do Ibo, o único estabelecimento de saúde que servia o arquipélago das Quirimbas. Mais de 800.000 pessoas – um terço da população da província – fugiram das suas casas por causa da intensificação do conflito armado e encontraram abrigo em áreas urbanas e nas ilhas. As pessoas deslocadas costumam assentar-se na periferia das cidades, fora da cobertura dos sistemas de distribuição de água.
O rápido deslocamento da população e o acesso limitado a fontes de água potável nos assentamentos precários provocaram um aumento de doenças transmitidas pela água, como a cólera e a diarreia. O CICV observou uma correlação entre a concentração de grupos de pessoas deslocadas, a falta de fontes de água em boas condições e a propagação de doenças transmitidas pela água. De acordo com a OMS, o número de casos de cólera em Cabo Delgado no começo de agosto de 2021 foi de 3.400, em comparação com aproximadamente 2.200 no mesmo período do ano passado. No primeiro semestre de 2021, foram registados 28.602 casos de diarreia na província, 40% deles em distritos onde o CICV tem concentrado o seu trabalho, como Montepuez e as ilhas do Ibo. A diarreia tornou-se a segunda causa de morte entre as crianças menores de cinco anos. O COVID apresenta um risco adicional, associado parcialmente com a falta de higiene.
A falta de estabelecimentos de saúde em funcionamento reduziu a capacidade do sistema de saúde para detectar e reagir a surtos. 80% dos centros de saúde nos nove distritos setentrionais de Cabo Delgado, mais afetados pelo conflito, não estão a funcionar. A infraestrutura sanitária, que já era frágil, foi enfraquecida ainda mais pelo conflito armado, apesar da procura por serviços de saúde ter crescido entre 20% a 30% no sul da província de Cabo Delgado, uma zona que tem acolhido um grande número de pessoas deslocadas. Os estabelecimentos de saúde já sobrecarregados têm que lidar com a falta de espaço, aglomerações e a falta de pessoal e material médico.
O CICV está a trabalhar com as autoridades locais para reabilitar as infraestruturas hídricas, sanitárias e de saúde e construir novas. Está assim, a melhorar o acesso à saúde e a água limpa e impedir a propagação de doenças mortais, tanto no continente – por exemplo, na cidade de Montepuez – como nas ilhas. O CICV está a construir um novo hospital no Ibo, que irá atender as 30 ilhas do arquipélago. Como o litoral de Moçambique é vulnerável a impactos climáticos, todos os novos projetos de reabilitação e construção do CICV são sistematicamente projetados e construídos com infraestruturas resilientes, de forma a prevenir, tanto quanto possível, os potenciais impactos causados por desastres naturais.
Mais informações:
Alyona Synenko: aynenko@icrc, +254 716 897265
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Duração: 5.55 min
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Produtor: Mark Kamau
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Copyright: ICRC access all
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Montepuez, Norte do Moçambique. Vários planos. Mulheres e crianças pegando água em um poço.
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Entrevista: Mendinha, residente de Montepuez.
Eu venho de longe.
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Levo mais de uma hora para andar até aqui.
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Somos seis pessoas em casa. A água é para beber e para lavar roupas e pratos. Mas a água daqui é principalmente para beber.
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Plano médio de água turva.
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Plano médio. Uma menina enchendo uma bacia de água.
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Plano aberto. Uma mulher enchendo um garrafão de água.
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Entrevista: Dominik Stillhart, Diretor de Operações, CICV. É evidente o impacto do aumento no número de pessoas.
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Só há uma nascente, e estamos no final da temporada seca.
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Pessoas de toda a cidade,
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muitas delas deslocadas internas, precisam caminhar por até uma hora
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para buscar água aqui, na única nascente que há.
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E dá para ver que é uma nascente não protegida.
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As pessoas estão lavando roupas.
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E também fica claro por que a cólera, por exemplo, é um problema tão grande nesta cidade.
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Muitas pessoas dependem de água desse tipo e, como vocês podem ver,
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ela definitivamente não atende a nenhum padrão de saúde pública.
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Ilha Matemo, Norte do Moçambique. Vários planos. Água suja ao redor de um poço.
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Montepuez, Norte do Moçambique. Vários planos. Mulheres lavando roupas.
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Montepuez, Norte do Moçambique. Vários planos. Construção de uma ala do novo centro de saúde.
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Entrevista: Angel Carballo, Engenheiro, CICV.
Encontramos áreas que já eram
extremamente vulneráveis,
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que já tinham dificuldade para prestar
serviços à população residente atual,
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e agora vemos essa chegada
em massa de população.
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Então, há dois eixos claros em que isso se manifesta de forma mais dramática.
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Um são os serviços de saúde,
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e o outro é o abastecimento de água.
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Ilha Matemo, Norte do Moçambique. Plano médio. Uma mulher com um neném nas costas faz esforço para bombear água em um balde.
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00:02:50,286 --> 00:03:04,267
Plano médio. Um jovem ajuda a levantar baldes de água para que as mulheres possam equilibrá los na cabeça.
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00:03:04,267 --> 00:03:22,769
Plano aberto, passando a plano médio, passando a plano fechado. Duas mulheres e um menino, equilibrando baldes de água na cabeça, caminham em direção à câmera. Outras mulheres entram no plano, caminhando rumo ao poço. A câmera gira para acompanhar as primeiras mulheres do plano.
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00:03:22,769 --> 00:03:35,665
Plano de seguimento. A câmera acompanha as mulheres equilibrando recipientes na cabeça conforme caminham por uma trilha em meio à vegetação.
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00:03:35,665 --> 00:03:42,722
Entrevista: Dominik Stillhart, Diretor de Operações, CICV. Acho que é importante prestar muita atenção
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00:03:42,722 --> 00:03:46,209
no que está acontecendo aqui, especialmente no Norte do Moçambique.
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00:03:46,225 --> 00:03:52,382
É uma situação que tem tido consequências severas para muitas pessoas.
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00:03:52,382 --> 00:03:57,370
Conversamos com algumas pessoas aqui que foram deslocadas múltiplas vezes
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00:03:57,370 --> 00:03:59,706
nos últimos 12 a 18 meses,
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00:04:00,006 --> 00:04:04,944
e existe uma necessidade séria de prestar mais apoio aqui,
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00:04:04,944 --> 00:04:07,580
nesta área do Norte do Moçambique.
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00:04:07,580 --> 00:04:16,773
Montepuez, Norte do Moçambique. Vários planos. Perfuração de um novo poço.
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00:04:16,773 --> 00:04:35,408
Montepuez, Norte do Moçambique. Mulheres jovens pegando água no poço reabilitado pelo CICV.
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00:04:35,408 --> 00:04:44,600
Montepuez, Norte do Moçambique. Vários planos. Construção de centros de saúde.
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00:04:44,600 --> 00:05:14,430
Montepuez, Norte do Moçambique. Vários planos. O Diretor de Operações do CICV vistoria o progresso da construção da nova ala de um centro de saúde.
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Montepuez, Norte do Moçambique. Um menino e duas mulheres carregam água dentro de um campo.
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Ilha Quirambo. Vários planos de uma bomba de água quebrada.
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Vários planos. Poço de água cheio de areia.
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Metuge, Norte do Moçambique. Mulheres pegando água em poços rasos.
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00:05:41,924 --> 00:05:55,988
Montepuez, Norte do Moçambique. Plano médio. Uma menina equilibra um balde de água na cabeça, caminha para longe da câmera, e a câmera gira para acompanhá-la.